sobre a tristeza

e por que ela é assim tão mal vista?
tão feia?
tão indesejada?

é na tristeza que saem os melhores poemas, as músicas mais bonitas, aquelas coisas que fazem chorar.
é a tristeza que emociona, que toca, que faz a gente perceber que a vida é menos pior do que imaginávamos, simplesmente porque alguém está em situação pior.

tristeza é um isolante, uma ilha, um exílio.
felicidade a gente sente em conjunto, jobim disse que "é impossível ser feliz sozinho", mas tristeza é palavra singular, ímpar.

tristeza fortalece e há até quem goste.
belo exemplo é shakespeare, que disse "que bom que é estar triste e não dizer coisa nenhuma".
e, mesmo que haroldo lobo e niltinho tivessem a intenção de exorcisar a tristeza, foi caminhando de mãos dadas com ela que encontraram inspiração para escrever canção de mesmo nome.

niguém tem verdade nas palavras tristes quando não conheceu a tristeza.
e devo ressaltar que sua lealdade deveria ser reconhecida, pois, quando todos se vão, é a única que persiste ao lado de quem quer que seja. do presidente ao cachorro de rua.
por vezes deixa que a saudade entre. a solidão também participa algumas vezes, mas a tristeza é, de todas, a mãe.

como qualquer um que faz companhia, a estadia constante é cansativa, contudo, sugiro que se aproveite, porque nada é acaso.

. faça sua música, ou ouça quem já a tenha feito.
. assista a algo que não te afaste da tristeza, porque ela é necessária, mas que te afaste do que deixa triste, ou ela jamais partirá.
. se nada der certo ou se não souber como dar passos assim tão simples, escreva num blog. ou somente leia.

sobre as comparações

ontem eu estava assistindo ao jornal da band com meu pai e o apresentador [joelmir beting] falava sobre as grandes chuvas e enchentes nas regiões sul e sudeste, especialmente no estado de são paulo. depois de mostrar algumas imagens dos desastres, uma mulher foi entrevistada porque perdeu seus dois filhos pequenos no soterramento que levou também sua casa.

o fato é que a mulher morava em uma área de risco e a defesa civil já a havia informado sobre o perigo de continuar vivendo lá. quando acabou a reportagem, meu pai falou uma coisa meio “ah, mas ela já sabia que tava em lugar de risco...”, como se o fato de saber que o lugar onde ela morava oferecia risco à sua família lhe conferisse o poder de conseguir uma casa segura. não.

após o fim da exibição das imagens, beting desmembrou a questão das enchentes e fez uma subversão da passagem bíblica/dito popular “após a tempestade vem a bonança”, dizendo que “após a tempestade... vem a inundação, as doenças...” e, chamou a atenção para as doenças de contágio através de água contaminada, que são responsáveis por 2/3 da mortalidade infantil no brasil, segundo ele. até aí estava tudo certo.

quando o foco caiu na mortalidade infantil, ele lamentou dizendo que ,”no brasil, uma árvore cortada causava mais impacto e mobilização do que uma criança morta por insalubridade.” completou dizendo que “a mortalidade infantil não chamava atenção de ninguém, nem mesmo dos ambientalistas.”

do meu ponto de vista, seria um comentário compreensível se viesse de alguém com baixo nível de formação. não era o caso.

tratando a questão ambiental como um todo, não fica difícil interligar a mortalidade infantil com os ambientalistas.

¹ uma árvore é ilegalmente derrubada e gera borracha, madeira e papel. se a derrubada é ilegal, consideremos o uso e a transformação de seus subcomponentes também dessa forma. os restos de fábricas ilegais são depositados na natureza de forma irresponsável, ferindo o conceito do tão popular desenvolvimento sustentável. esses restos depositados são tóxicos e contaminantes, dificultando o processo da purificação e produção de água própria para consumo, água potável.

² uma vez que uma pessoa joga lixo na rua e, esse lixo não é coletado, ele se acumula e entope bueiros . quando chove, o bueiro interditado provoca a inundação das ruas, o acúmulo de água podre, de água contaminada. exatamente a mesma água que carrega as doenças responsáveis pelos 2/3 da mortalidade infantil no brasil.

é importante salientar que ambientalistas não se preocupam somente com árvores derrubadas. o meio ambiente é um conjunto complexo o suficiente para não ser baseado em somente um exemplo.

é evidente que a atenção direta à mortalidade infantil deve ser grandemente aumentada, mas não tratá-la como parte de um ciclo que envolve outros problemas com importância potencial é semelhante a tratar a violência como um problema isolado e de foco oposto às políticas de educação e emprego.

não sei como manter as esperanças.

agora o jornalismo não precisa mais de diploma.

sobre meus agradecimentos

antes de mais nada, quero avisar que esse é um post que saiu a partir de uma sessão de sambas, especialmente 'pé do meu samba', que é um dos que eu mais amo, somado a muitos momentos bons com as melhores pessoas que eu conheço e 'divã', o filme da xuxa, digo, da lilia cabral.

ocorre que assim que terminei de assistir ao filme, eu chorei.
bastante.

não é estranho que alguém tenha chorado com o filme porque ele é emocionante.
estranho é eu ter chorado.

as lágrimas vieram porque o que mais me chamou atenção no filme foi a amizade [quem já viu o filme sabe que esse não é o foco principal, mas foi o ponto alto pra mim] e, quem me conhece mesmo sabe que é uma coisa sagrada pra mim.
eu me dei conta de que tudo que me pertence de mais importante está diretamente relacionado às minhas amizades.

cada um de um jeito, cada um no seu tempo, cada período com essa ou aquela intensidade, mas sempre amizade.

aqui eu agradeço pela confiança, pelos beijos, risadas, tapas, lágrimas, esporros, abraços, foras... pela existência.












"se um dia eu tiver algum problema, não vai ser por falta de felicidade"

sobre os irracionalismos

a priori, decido que isso não será mais um rascunho - como vem sendo os meus últimos textos - , mas uma declaração não-bombástica.

seguinte: eu tentei escrever sobre coisas importantes, coisas difíceis e que exigem uma avaliação profunda e uma opinião relevante. o que eu ganhei com isso? textos que nunca se mostram bons o suficiente pra mim e jamais serão postados.
decidi que agora o importante é o que eu sinto vontade de fazer, na hora que eu sinto vontade de fazer, do jeito que eu sinto vontade de fazer. pronto.

eu tentei escrever sobre a morte [antes do mj morrer], saiu uma boa bosta.
quando ele morreu, eu já não lembrava do último rascunho e vi que as coisas poderiam se encaixar. doce ilusão. o texto ficou uma droga.
quando eu vi que qualquer indignação, alegria, achismo, vontade de falar qualquer besteira poderia dar num post, eu vim aqui e escrevi.

e até hoje eu ainda não entendi a razão que me leva a ser tão exigente comigo mesma quando o assunto são textos pelos quais eu não receberei nenhuma recompensa.

um dia eu entenderei.
juro que conto.

sobre a preguiça

eu juro que postaria hoje, mas o post sobre as mulheres me pareceu tão propício. fica pra próxima.

abraços!

sobre as mulheres

já há algum tempo venho assistindo ao programa da apresentadora norte-americana ellen degeneres, o “the ellen degeneres show”.

além de o programa contar com a irreverência, inteligência e prestígio da apresentadora, os convidados para as breves entrevistas sempre trazem alguma novidade relevante, geralmente ligadas à alguma personalidade importante ou à política, mas não foi a qualidade do programa que me fez chegar até aqui.

no programa exibido ontem [02/01/09] aqui no brasil, a atriz anna faris foi fazer a divulgação de seu último filme [“house bunny”, se não me engano] e, levou um par de sandálias altíssimas de presente para ellen. as sandálias estilo ‘drag queen’ foram usadas por anna no filme porque interpretou uma das coelhinhas da playboy.

aos que não sabem, ellen degeneres é publicamente homossexual e casada e, ao receber as sandálias, ironizou dizendo que ‘estava se sentindo muito sexy’.

o programa de ontem [em especial por causa do presente que ellen recebeu] me fez pensar sobre como é visto o perfil da mulher na sociedade. sim, porque, pra mim, a postura de ellen representa grandemente o vislumbre que sustento sobre como uma mulher deve se portar. não somente por ser homossexual, ellen não usa roupas apelativas, nem maquiagem especificamente feminina. seu humor é direto, ácido, como eu gosto de ver. em contrapartida, no canal concorrente, vem o programa da oprah, que é de uma corrente diferente, que ajuda as pessoas utilizando de drama, fala sobre dietas, mostra receitas de pratos que pobres não fazem e fala de recuperados de doenças inimagináveis quase todos os dias, mas há quem goste.


o ponto é o seguinte: como a oprah é totalmente feminina, maquiada, cheia de “não-me-toque”, sua postura de mulher é totalmente aceita, enquanto o comportamento de ellen é tido como tal porque ela é homossexual.

ainda não consigo entender a razão que faz as pessoas pensarem que para ser mulher é necessário estar sempre sobre saltos, embaixo de quilos de maquiagem e com palavras doces nos lábios. não estou aqui para defender essa ou aquela, mas, por intermédio dessas duas apresentadoras, percebi que a visão das pessoas sobre isso ainda é muito retrógrada.

particularmente, não sou exatamente fã de saltos enormes, nem de muita maquiagem, mas isso não me faz menos mulher do que as que adoram estar sempre soterradas em acessórios!

a confusão que se faz a respeito da sensualidade e da sexualidade das mulheres é um erro comum. quem nunca estudou numa classe com aquela menina que gostava de futebol, nunca ia de batom e não tinha nojo de barata? e sempre tinha quem dissesse que ela era ‘sapatão’. isso é o que se pode chamar realmente de pré-conceito.

parece que agora, para ter uma postura firme diante dos demais, as mulheres tem de deixar sua feminilidade de lado. e, quando já não são naturalmente tão femininas, são previamente classificadas como lésbicas. tenha dó!

vamos ver quando é que algumas visões preconceituosas serão deixadas de lado, se é que um dia serão. até lá, eu continuo assistindo ao programa da ellen.

abraços!