sobre as coisas que eu vejo

algumas coisas que a gente vê na tv são realmente desprezíveis, né? [vide aquele programa, no mínimo, babaca, que passa na redetv, onde a apresentadora incentiva os ratinhos adestrados do outro lado da tela a descobrirem o "misterioso" enigma de um emaranhado de letras].

bom, fato é que, além de mais umas três dúzias de programas totalmente ridículos, existem os noticiários. digo isso porque, pra mim, esses programas merecem uma classificação ímpar.
dependendo da emissora, a notícia soa de formas totalmente diferentes!

um fato, especificamente, me fez escrever sobre isso: o depoimento de uma senhora num jornal da rede globo, a respeito das compras de páscoa.

estava eu almoçando em casa e assistindo ao "jornal hoje", que estava - como todos, ou quase todos os outros programas jornalísticos - reportando sobre o aumento dos preços dos ovos e chocolates em geral. até aí, tudo bem, nenhuma novidade. os preços sempre aumentam e as pessoas sempre compram, não é verdade?
pois é, mas a reportagem se mostrou de uma nova forma para mim quando apareceu a tal senhora. o repórter a perguntou sobre os preços, se ela iria comprar muitos chocolates, fazer alguma substituição... as perguntas de sempre. eis que a mulher, com [muitas] lágrimas nos olhos, responde que economizou durante 3 [três] anos para comprar os ovos de páscoa de seus 18 [dezoito] netos!
eu parei de comer e fiquei tentando decidir qual seria a primeira coisa com a qual eu deveria me chocar. vou tentar enumerar, só para expor um raciocínio mais organizado:

1° a mulher disse que economizou durante 3 anos para comprar ovos de páscoa: a situação do brasileiro tá assim tão desesperadamente ruim a ponto de economizar durante esse tempo todo para comprar chocolates? aí, provavelmente, eu vou ouvir um "óbvio! você não tá vendo quanta gente passando necessidade?"; mas, se está assim tão ruim, por que as pessoas [mesmo as mais necessitadas] continuam fazendo esse tipo de coisa? e o pior, para comprar chocolate, para satisfazer a impressão, o visual?;

2° onde come um, comem dois? comem 18? se as pessoas acham que a situação tá ruim, que o povo tá precisando disso e daquilo, não é colocando mais um aqui que a história vai mudar... o discurso é velho, mas parece que ainda não tá funcionando;

3° se essa mulher não desse os ovos aos netos, ainda seria a vovozinha querida? mesmo com as pessoas mais pobres, é sempre o material que conta? cadê aquela figura do brasileiro de classe média/baixa que se contenta com o sorriso da criança?;

4° não vou aprofundar a questão de subversão de valores que está ligada à religião, mas me vejo obrigada a , pelo menos, citar: se essa mulher aparecesse na casa dos netos e contasse a história religiosa da páscoa, provavelmente não receberia metade dos abraços e agradecimentos que deve ter recebido ao chegar com os ovos. defendo o plano religioso como o mais importante, mas não me cabe julgar. fato é que, independente da religião de cada um, me parece óbvio que o chocolate seja menos importante;

5° o choro daquela mulher [se o vissem, entenderiam a profundidade da emoção que ela estava sentindo] parecia mostrar um orgulho/alegria... por quê?


mas, passou!
daqui a pouco vem o dia das mães e mais uma penca de gente que deve no cheque especial lotando os shoppings do brasil todo.
se tivermos sorte, provavelmente aparecerá algum filho abandonado procurando a mãe, umas dúzias de reportagens sobre mães que abandonam os filhos em rios, portarias, lixões...
*digo "sorte" porque seria apenas mais um ano de reportagens previsíveis. não seria cruel a ponto de classificar a situação de tantas mãe e filhos como tal.

que venha o dia das mães, das bruxas, natal...

abraços.