sobre as introspecções

já é a segunda vez que "divã" me deixa pensando na vida.
e eu acho que esse é basicamente o princípio do filme. pelo menos esse efeito dá eficiência ao nome.

eu sempre fui particularmente contra a introspecção, - motivo pelo qual não consigo deixar de nutrir um rancor saudável contra algumas obras da lispector - e esse filme nada mais é que uma introspecção mediada e assistida, mas eu também não me sinto no direito de negar o humor e a graça do filme, mas a ideia ainda não me convence.

todo mundo diz que quando a gente perde 10 minutos pra organizar, a gente ganha não sei quantos mais pra viver sem impecílios. isso me parece exatamente o princípio da introspecção. você passa um tempo "mínimo" [em muitos casos, contínuo] refletindo em favor de uma vida organizada depois, certo? não!

além de ser uma prescrição totalmente arbitrária, é a negação da razão maior do engrandecimento dos seres humanos: o erro!
aí eu chego à conclusão de que não é loucura pensar que a introspecção é, na verdade, um erro dentro de outro erro. é se enganar dentro do próprio engano pra achar que tá sendo verdadeiro, porque você tá lá se revendo, se reavaliando achando que tá ganhando por reconstruir alguma coisa que você acha que vai falhar em algum momento da sua vida, mas, se reconstruindo ou não, você vai falhar em algum momento da sua vida. sabe o que é pior? vai falhar muito. sabe o que é pior ainda? essa sua reconstrução não só não impede o erro e promete de forma inverídica que vai te poupar tempo como é em si um gasto imperdoável de um tempo precioso que você poderia gastar errando sem se preocupar com reconstrução nenhuma!

eu ainda prefiro não viver à margem. a gente sempre acha que vai dar tempo de passar a caneta sobre o rascunho, mas ninguém sabe quando o tempo vai acabar, cara! será que ninguém mais vê?
eu acho muito desperdicioso [essa palavra existe? d-e-s-p-e-r-d-i-c-i-o-s-o] passar a vida toda achando que pode errar agora porque vai existir segunda chance e que vamos ter oportunidade de fazer o correto na segunda,terceira, décima nona vez.

alguém pode achar que isso já é uma forma de introspecção, mas eu não acho que seja.
é quase uma espécie de metalinguagem, sei lá. é talvez esmiuçar alguma coisa que serve pra explicar, mas também não tenho certeza se é realmente isso.
eu não quero rotular, mas achei que seria importante deixar transparecer que eu tenho consciência das aparências.
é, é uma instrospecção.
dane-se.